Na
fase final do regime militar, entre 1983 e 1984, o movimento das
“Diretas Já” teve participação popular e ganhou as ruas das principais cidades
brasileiras. Os manifestantes exigiam eleições diretas para Presidência da
República. Uma parte da sociedade
brasileira – na época e ainda hoje - acusa a tevê Globo de omitir em seus
telejornais a importância da campanha favorável a eleições para presidente. A
suposta falta de comprometimento no caso das Diretas, gerou polêmicas e
discussões na época do acontecimento e ainda é um tema polêmico da atualidade.
A hegemonia da emissora carioca sobre as outras redes de tevê ainda é uma
realidade nos dias atuais, porém nas décadas de 80 e 90 do século passado, era
ainda mais forte.
Na
campanha das “Diretas Já” entre março de 1983 e abril de 1984, o papel da Rede
Globo no início do episódio foi procurar projetar o movimento de maneira
inferior à magnitude que se constatava, diminuindo ou silenciando a importância
da campanha. Enquanto os outros veículos de comunicação mostraram com ênfase a
importância da realização do ato político de oposição ao regime vigente. A tevê
de Roberto Marinho acompanhou de forma discreta todo o processo de tramitação
da emenda Dante de Oliveira no Congresso Nacional, noticiou os debates,
encontros e entrevistas. No ano de 1984, ocorreu o crescimento da campanha. Já
em janeiro daquele ano, aconteceu um comício de lançamento nacional do
movimento das “Diretas Já” em Curitiba e a emissora inicialmente manteve a
mesma postura do ano anterior com coberturas sem maiores repercussões, o evento
na capital paranaense foi noticiado apenas no telejornal local.
Imagem pública da internet (Praça da Sé - São Paulo - 25/01/1984) |
Nos
comícios seguintes, a Globo adotou os mesmos critérios e cobriu as
manifestações somente nos noticiários regionais. A primeira exibição em rede
nacional da campanha foi no Jornal Nacional, em 25 de janeiro de 1984, em São
Paulo, na Praça da Sé, aniversário da cidade. A reportagem é considerada por
muitos como a grande polêmica da cobertura da Rede Globo no movimento das "Diretas Já". Segundo a emissora
carioca, o motivo da repercussão foi a escalada do Jornal Nacional da data do
dia 25 de janeiro de 1984, sem referências ao comício, mas sim ao aniversário da capital paulista. O fato foi sentido na chamada de entrada do telejornal, então
apresentado por Marcos Hummel. Porém o que foi reiterado no decorrer da matéria,
produzida pelo jornalista Ernesto Paglia, era o objetivo político da
manifestação. A sociedade civil organizada exigia maior destaque das
manifestações pró-diretas, e chegou até a depredar automóveis da emissora. Os
militares pressionavam para que não fosse feita a cobertura do evento,
ameaçando retirar a concessão da emissora, de acordo com informações da própria TV
Globo. Mas conforme crescia a campanha das “Diretas Já”, era inevitável a
cobertura jornalística da movimentação. No fim da campanha em abril de 1984,
especificamente nos comícios do Rio de Janeiro, na Candelária, e de São Paulo,
no Vale do Anhangabaú, a Rede Globo de Televisão adotou outra postura, e passou
a fazer a cobertura jornalística intensa das diretas para todo país. A verdade,
no entanto, é que a trajetória da tevê carioca foi de omissão com relação à
cobertura da emenda Dante de Oliveira, na maior parte do tempo.
Enfim,
podemos nos perguntar se era isso exatamente o que o brasileiro esperava de uma
emissora líder de audiência no país? Nos dias atuais, já passados mais de 30
anos do processo de redemocratização, e questiona se todo aquele silêncio (ou
prudência) com relação a cobertura da Rede Globo no movimento das “Diretas Já”
não foi por medo das retaliações dos militares ou apreensão pela possibilidade
da perda da concessão. A mudança de atitude terá sido motivada pela possível perda
de audiência para outras emissoras de televisão na cobertura daquele evento tão
importante para o país? O que estava em jogo: a luta pela audiência, receio da
censura ou interesses empresariais? A resposta? Deixamos para os leitores do Blog dos Letrados Desalienados
fazerem uma reflexão.
Sérgio Lopes