O Poema de Sete Faces foi
divulgado no ano de 1930, no primeiro livro “Alguma Poesia” de Carlos Drummond
de Andrade. O poema pode ser considerado apto a investigar sentimentos,
comoções, sensações, vivências, pesares, desconsolos, aflições...
Poema
de Sete Faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche
na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas
amarelas.
Para que tanta perna, meu
Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do
bigode,
Meu Deus, por que me
abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma
solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o
diabo.
Carlos Drummond de Andrade
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