quinta-feira, 30 de junho de 2022

Poema Em Linha Reta

O poeta português Fernando Pessoa fez ironicamente o Poema Em Linha Reta. A produção literária de Pessoa é uma crítica aos que pensam que são melhores e nunca admitem os próprios erros.  O poema foi escrito no período de 1914 a 1935.  Entretanto, continua bastante atual...  Eis o poema:

Poema Em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida...Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Poema de Sete Faces

 

O Poema de Sete Faces foi divulgado no ano de 1930, no primeiro livro “Alguma Poesia” de Carlos Drummond de Andrade. O poema pode ser considerado apto a investigar sentimentos, comoções, sensações, vivências, pesares, desconsolos, aflições...

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

 

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

 

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

 

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode,

 

Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

 

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

 

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 24 de junho de 2022

O Rei do Cinema Mudo

No século passado, Charles Chaplin foi ícone do cinema mudo. Ele nasceu no ano de 1889, em Londres, na Inglaterra. Exerceu as profissões de músico, escritor, produtor, diretor, roteirista. Todavia ficou conhecido mundialmente, atuando como ator e comediante. Os seus personagens fizeram críticas à organização, à instituição, à indústria, à sociedade. Bem como, julgaram os regimes antidemocráticos (Nazismo e Fascismo). A carreira do ator inglês foi marcada por filmes como: Carlitos Repórter, Corridas de Automóveis para Meninos, O Vagabundo, O Garoto, Em Busca do Ouro, O Circo, Luzes da Cidade, Tempos Modernos, O Grande Ditador, Monsieur Verdoux. Ele faleceu em 1977.  Por fim, uma reflexão de Charles Chaplin a respeito da vida.

O Caminho da Vida

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.

A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

Charles Chaplin

Sérgio Lopes - Jornalista, Professor, Especialista em (TV, Cinema e Mídias Digitais) e em Letras (Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Inglesa)