segunda-feira, 31 de maio de 2021

Amar

 

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Lá se foi mais um guerreiro valioso

 

No período de 07 de agosto de 1964 até 06 de maio de 2021, Henrique Figueiredo Curcino espalhou alegria, amor, simpatia, carisma, humildade, bondade, humor, amizade, alto astral, diversão e simplicidade por todos os lugares.  Henrique Figueiredo Curcino era conhecido como Lico, Linco, Fofinho,  Paulista, Índio, o cara do uísque, o  primo paulista.  Ele nasceu na Região Sul do Brasil, em  Bandeirantes, estado do Paraná. Ainda jovem foi com sua família para São Paulo. Trabalhou em diferentes ramos de atividades:  representação de tapetes, educação infantil (creche), produção de artesanato, bares, restaurantes, similares... Na área comercial, demostrou um talento extraordinário, juntamente com sua esposa (Vani Lopes). O jovem casal conquistou uma excelente clientela. O trabalho proporcionou imóveis, automóvel, capital. Contudo, Henrique Figueiredo Cursino nunca abriu mão dos prazeres da vida.  Na badalação de São Paulo, Lico frequentou os Shoppins Centers e suas praças de alimentação,  usou roupas de grife, saboreou as boas bebidas,  curtiu o litoral paulistano, divertiu com os pancadões barulhentos e apreciou o que tem de melhor na  gastronomia paulista. Além disso, foi um pai de família exemplar. Nunca deixou faltar nada para sua esposa, filhos, netos, parentes. Todavia, Lico estava bem desgastado com o agito da capital. Então, começou fazer viagens para a cidade natal.  Espalhou alegria em Bandeirantes. Mas Lico ainda não tinha conhecido o estado de Minas Gerais. No ano de 1998, Lico conheceu Minas Gerais... O paulista veio diretamente para a pequena Coronel Pacheco. Inicialmente, ficou perplexo com o tamanho da cidade. Mas sua vinda foi hilária. No primeiro dia do primo paulista, eu  e  meus irmãos fomos apresentar a cidade para o Lico, que aqui passou a ser chamado de Linco. A ida inicial foi no antigo bar do Paulinho. Linco pediu um monte de cerveja e tira-gosto... Nós ficamos assustados, mas foi muito divertido... Linco ficou encantado com a cidade e as suas vindas tornaram frequentes. Ele e sua família sempre ficavam hospedados na residência dos meus pais. Ele tinha um imenso carinho pela minha falecida mãe e por toda nossa família... Sinceramente, era um bagunça geral.... Mas era bom demais. Nós comíamos peixes e  fazíamos churrascos maravilhosos. Aliás, Linco era um baita de um churrasqueiro. Linco e Vani faziam o tradicional baião de dois, prato nordestino espetacular... Linco foi além dos laços familiares, ele começou a curtir todas as festas da região (Cabra Fest, Festa da Banana, Exposição , Carnaval). O uísque, a água de coco e o  red bull passaram a ser sua marca registrada. Essa prática é muito comum em São Paulo, mas na nossa região, uma novidade... O amor de Linco por Minas Gerais foi crescendo...  Então, ele decidiu comprar um granja no Jardins do Continente, Coronel Pacheco.  Definitivamente, ele passou a ser conhecido por todos e começou a fazer muitas amizades.  A galera  (Nenem, Tilica, Braz Junior, e outros  ),  o pessoal do bairro Continente, o Anderson do bar ( chamado por ele de bar do aranha), o bar do Waldir, a galera do centro de Coronel, o pessoal de Goianá (Conde do gás, Eleuza, Samuel, Claudinha...) e tantos outros sempre  demostraram muito amor e carinho. Bem como,   tornaram amigos e admiradores do nosso querido  Henrique Figueiredo Curcino.

Eu , minha esposa (Clarisse), meus filhos (Murilo e Miguel), meu pai (Murilo), meus irmãos (César e Eder), minhas cunhadas (Ana Paula e Carolina) e todos os simpatizantes do Linco devemos acreditar que ele partiu, porém nunca abandonará  nossos corações e deixará sempre  conosco um saudade sem fim. Meu querido primo, amigo e guerreiro Linco, muito obrigado por tudo. Vá em paz, vá com os anjos !!!

Jornalista e Professor Sérgio Lopes