segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Viva a Capital dos Mineiros!

Segundo o site https://www.em.com.br/app/noticia, inaugurada em 12 de dezembro de 1897, com o nome de Cidade de Minas, e batizada Belo Horizonte – na grafia antiga, Bello Horisonte –, em 11 de agosto de 1901. A capital dos bares é chamada carinhosamente de beagá, bêlo, BH. Conforme projeção realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no ano de 2021, Belo Horizonte tem 2.530.701 habitantes. A principal cidade de Minas Gerais passou por processo crescente de desenvolvimento econômico e cultural. Na década de 1920, os jovens poetas (Carlos Drummond de Andrade, Gustavo Capanema, Emílio Moura, Pedro Nava) passaram pela Rua da Bahia... Lançaram uma revista e colocaram o nome de Belo Horizonte na vanguarda do modernismo paulista e carioca. Posteriormente, novos nomes surgiram no cenário literário (Hélio Peregrino, Oto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino). A capital das Minas Gerais foi berço para músicos da cultura nacional, e até para alguns com fama internacional... No meio musical, destaque para Milton Nascimento e o Clube da Esquina (Lô Borges, Márcio Borges, Wagner Tiso, Toninho Horta, Beto Guedes, Fernando Brant, Flávio Venturini), 14 Bis, Sepultura, Skank, Jota Quest, Pato Fu, Tianastácia. Outros ícones da cena cultural de beagá são: Companhia Giramundo de Bonecos, Grupo Corpo, Grupo Galpão, Escola Guignard.... Circuito Cultural Praça da Liberdade, Mercado Central, Museu de Artes e Ofício, Praça do Papa, Feira Hippie da Afonso Pena, Mineirão: jogos do Cruzeiro e do Atlético, dentre outros eventos são atrações de bêlo. A gastronomia de BH é boa demais (feijão tropeiro, pão de queijo, tutu de feijão, frango com quiabo, leitão à pururuca, goiabada cascão). Os belo-horizontinos têm saneamento, transporte, energia e telecomunicação. As faculdades e as universidades estão estabelecidas na cidade. Beagá oferece amplos serviços, seja de saúde, lazer, compras, educação, arte, cultura, entretenimento... Por fim, parabéns Belo Horizonte, por levar tanta história, costume, hábito, tradição, lenda, prática, beleza, encantamento, magia, poesia, atrativo, charme, sedução. Parabéns BH, por acolher tão bem as pessoas, por respeitar as diferenças e por ter grandes talentos da cultura brasileira e mundial.

Sérgio Lopes, Jornalista, professor, especialista em TV, Cinema e Mídias Digitais e em Letras (Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Inglesa)


quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Modernizar o passado é uma evolução musical

Na última década do segundo milênio, Recife passou por crise no cenário cultural e pobreza extrema. Chico Science e a banda Nação Zumbi, Fred Zero Quatro e a banda Mundo Livre S/A, Mabuse, Héder Aragão, Renato L e outros artistas pernambucanos foram responsáveis pelo movimento de contracultura “Mangue Beat”, no ano de 1991. A proposta foi estabelecer inovação cultural com o surgimento de ritmos, que combinam componentes da cultura pop com a cultural tradicional. As manifestações folclóricas como o maracatu e a ciranda foram utilizadas para produzir os passos do movimento, ademais, apontou os problemas da capital pernambucana. Conforme o site https://mundoeducacao.uol.com.br/artes, assim, estilos e ritmos como o maracatu e o coco foram incorporados ao hip-hop e rock. Essa mistura de elementos tradicionais e modernos foram a forma encontrada pelos representantes do Mangue Beat para valorizar a cultura regional. Nos anos noventa, a cena artístico-musical do “Mangue Beat” contribuiu para dar visibilidade às pessoas que viviam na periferia pernambucana, na capital do abandono, da miséria, da desigualdade, da violência. Chico Science, Fred Zero e outros integrantes mudaram a concepção de muitas pessoas em relação ao subúrbio da selvageria e da indiferença...  A turma do mangue mostrou o talento dos menos favorecidos economicamente, as classes baixas da sociedade recifense podiam produzir arte e cultura de qualidade... O mangue excedeu as extremidades da cidade de Recife e se espalhou por todo país. O movimento pernambucano foi, é e sempre será marcado na arte e na cultura brasileira. Ele pode ser considerado a atribuição dos festejos gerais da região nordeste. Chico Science e seus amigos aproveitaram as peculiaridades das influências nordestinas passadas de geração em geração, para constituir a sustentação cultural. Por fim, de acordo com o relato de Osvaldo Meira Trigueiro, no artigo Espetacularização das culturas populares ou produtos culturais folkmidiáticos, “as manifestações culturais estão em constante processo de mudança de seus significados e isso se liga a globalização, pois com ela, não existe uma uniformidade cultural, mas sim uma diversidade de culturas”.

Sérgio Lopes, Jornalista, professor, especialista em TV, Cinema e Mídias Digitais e em Letras (Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Inglesa)

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

O Navio Negreiro

 

Antônio Frederico de Castro Alves é o famoso Castro Alves, o poeta dos escravos. É considerado por muitos, o escritor responsável por uma poesia social. Os poetas das gerações românticas anteriores defenderam uma ótica idealizada e ufanista do Brasil. Diferente deles... Castro Alves mostrou a crueldade da escravidão dos negros, a prepotência, a violência, o abuso, a arbitrariedade e a incompreensão da população brasileira... Alguns exemplos de obras relevantes são: "As espumas flutuantes (1870)"; "A cachoeira de Paulo Afonso (1876)"; "Os escravos (1883)"; "Obras completas (1921)" em que consta o livro inédito Hinos do Equador. Por fim, o melhor do poeta romântico “O navio negreiro”, é parte da obra "Os escravos (1883)".  É uma das mais categóricas considerações realizadas na literatura brasileira, em relação à vivência de um país, que foi o último, a decretar o fim da escravidão.

Sérgio Lopes (Jornalista, professor, especialista em (TV, Cinema e Mídias Digitais) e em Letras (Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Inglesa

O Navio Negreiro (Castro Alves)

I

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço

Brinca o luar — dourada borboleta;

E as vagas após ele correm... cansam

Como turba de infantes inquieta.

 

'Stamos em pleno mar... Do firmamento

Os astros saltam como espumas de ouro...

O mar em troca acende as ardentias,

— Constelações do líquido tesouro...

 

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos

Ali se estreitam num abraço insano,

Azuis, dourados, plácidos, sublimes...

Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

 

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas

Ao quente arfar das virações marinhas,

Veleiro brigue corre à flor dos mares,

Como roçam na vaga as andorinhas...

 

Donde vem? onde vai? Das naus errantes

Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?

Neste saara os corcéis o pó levantam,

Galopam, voam, mas não deixam traço.

 

Bem feliz quem ali pode nest'hora

Sentir deste painel a majestade!

Embaixo — o mar em cima — o firmamento...

E no mar e no céu — a imensidade!

 

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!

Que música suave ao longe soa!

Meu Deus! como é sublime um canto ardente

Pelas vagas sem fim boiando à toa!

 

Homens do mar! ó rudes marinheiros,

Tostados pelo sol dos quatro mundos!

Crianças que a procela acalentara

No berço destes pélagos profundos!

 

Esperai! esperai! deixai que eu beba

Esta selvagem, livre poesia

Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,

E o vento, que nas cordas assobia...

..........................................................

 

Por que foges assim, barco ligeiro?

Por que foges do pávido poeta?

Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira

Que semelha no mar — doudo cometa!

 

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,

Tu que dormes das nuvens entre as gazas,

Sacode as penas, Leviathan do espaço,

Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.

 

 

II

 

 

Que importa do nauta o berço,

Donde é filho, qual seu lar?

Ama a cadência do verso

Que lhe ensina o velho mar!

Cantai! que a morte é divina!

Resvala o brigue à bolina

Como golfinho veloz.

Presa ao mastro da mezena

Saudosa bandeira acena

As vagas que deixa após.

 

Do Espanhol as cantilenas

Requebradas de langor,

Lembram as moças morenas,

As andaluzas em flor!

Da Itália o filho indolente

Canta Veneza dormente,

— Terra de amor e traição,

Ou do golfo no regaço

Relembra os versos de Tasso,

Junto às lavas do vulcão!

 

O Inglês — marinheiro frio,

Que ao nascer no mar se achou,

(Porque a Inglaterra é um navio,

Que Deus na Mancha ancorou),

Rijo entoa pátrias glórias,

Lembrando, orgulhoso, histórias

De Nelson e de Aboukir.. .

O Francês — predestinado —

Canta os louros do passado

E os loureiros do porvir!

 

Os marinheiros Helenos,

Que a vaga jônia criou,

Belos piratas morenos

Do mar que Ulisses cortou,

Homens que Fídias talhara,

Vão cantando em noite clara

Versos que Homero gemeu ...

Nautas de todas as plagas,

Vós sabeis achar nas vagas

As melodias do céu! ...

 

 

III

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!

Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano

Como o teu mergulhar no brigue voador!

Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!

É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...

Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

 

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!

 

E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais ...

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...

 

Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

 

No entanto o capitão manda a manobra,

E após fitando o céu que se desdobra,

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!..."

 

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais...

Qual um sonho dantesco as sombras voam!...

Gritos, ais, maldições, preces ressoam!

E ri-se Satanás!...

V

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus?!

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?...

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!

 

Quem são estes desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são? Se a estrela se cala,

Se a vaga à pressa resvala

Como um cúmplice fugaz,

Perante a noite confusa...

Dize-o tu, severa Musa,

Musa libérrima, audaz!...

 

São os filhos do deserto,

Onde a terra esposa a luz.

Onde vive em campo aberto

A tribo dos homens nus...

São os guerreiros ousados

Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão.

Ontem simples, fortes, bravos.

Hoje míseros escravos,

Sem luz, sem ar, sem razão. . .

 

São mulheres desgraçadas,

Como Agar o foi também.

Que sedentas, alquebradas,

De longe... bem longe vêm...

Trazendo com tíbios passos,

Filhos e algemas nos braços,

N'alma — lágrimas e fel...

Como Agar sofrendo tanto,

Que nem o leite de pranto

Têm que dar para Ismael.

 

Lá nas areias infindas,

Das palmeiras no país,

Nasceram crianças lindas,

Viveram moças gentis...

Passa um dia a caravana,

Quando a virgem na cabana

Cisma da noite nos véus ...

... Adeus, ó choça do monte,

... Adeus, palmeiras da fonte!...

... Adeus, amores... adeus!...

 

Depois, o areal extenso...

Depois, o oceano de pó.

Depois no horizonte imenso

Desertos... desertos só...

E a fome, o cansaço, a sede...

Ai! quanto infeliz que cede,

E cai p'ra não mais s'erguer!...

Vaga um lugar na cadeia,

Mas o chacal sobre a areia

Acha um corpo que roer.

 

Ontem a Serra Leoa,

A guerra, a caça ao leão,

O sono dormido à toa

Sob as tendas d'amplidão!

Hoje... o porão negro, fundo,

Infecto, apertado, imundo,

Tendo a peste por jaguar...

E o sono sempre cortado

Pelo arranco de um finado,

E o baque de um corpo ao mar...

 

Ontem plena liberdade,

A vontade por poder...

Hoje... cúm'lo de maldade,

Nem são livres p'ra morrer. .

Prende-os a mesma corrente

— Férrea, lúgubre serpente —

Nas roscas da escravidão.

E assim zombando da morte,

Dança a lúgubre coorte

Ao som do açoute... Irrisão!...

 

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus,

Se eu deliro... ou se é verdade

Tanto horror perante os céus?!...

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

Do teu manto este borrão?

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão! ...

 

VI

Existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?

Silêncio. Musa... chora, e chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

 

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra

E as promessas divinas da esperança...

Tu que, da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!...

 

Fatalidade atroz que a mente esmaga!

Extingue nesta hora o brigue imundo

O trilho que Colombo abriu nas vagas,

Como um íris no pélago profundo!

Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!

Andrada! arranca esse pendão dos ares!

Colombo! fecha a porta dos teus mares!

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Quem puxa-saco puxa tudo, inclusive tapete

 

Eu amo o chefe, o diretor, o prefeito, o vice-prefeito, o vereador, o deputado, o governador, o senador, o ministro, o presidente, o secretário, o médico, o delegado, o empresário, o padre, o pastor. Eu gosto das pessoas poderosas. Eu sou solícito e sorridente. Eu ofereço tudo que tem, até o copo de água. Eu quero sair bem na foto, literalmente – no facebook, no instagram, no twitter, no zap, na tevê, no jornal, no rádio, na revista, nos eventos sociais, nas reuniões, nas campanhas eleitorais, nas festas, nas inaugurações de obras públicas. O meu intuito é tratar bem o superior enquanto for superior e obter algo para meu próprio benefício. Afinal de contas, quem sou eu?  Eu sou a figura humana detestável que adora lisonjear servilmente, bajular. Sou conhecido popularmente como: (puxa-saco, bajulador, lambe-botas, babão, adulador, baba-ovo, capacho). Faço tudo para agradar ao chefe, tenho personalidade dissimulada e sou naturalmente interesseiro. Além disso, passo por cima de valores morais, atropelo quem quer que esteja no meio desse caminho. Caro leitor, você convive ou já conviveu com um bajulador no seu trabalho? O puxa-saco de plantão está presente em todas as empresas. De norte a sul do Brasil, por ação do adulador, muitos trabalhadores são perseguidos na administração pública e privada. Infelizmente, são “julgados” e “condenados” sem direito a defesa. Vários são exonerados e demitidos, sendo que a maioria não tem oportunidade para expor sua versão a respeito dos acontecimentos. Os capachos têm como ideal adular o superior. Alguns tornam-se autoridades e recebem boa remuneração. Outros são apelativos com suas bajulações sem limite, deixam seus empregadores em situações constrangedoras ou comprometedoras. O desejo ardente de ganhar a admiração do patrão, causa prejuízo no ambiente de trabalho, com outros funcionários. Os puxa-sacos não serão extintos da terra. Infelizmente, o bajulador do presente poderá ser o patrão do futuro. O mais viável é ficar em silêncio e fazer o trabalho de maneira correta. Enfim, conforme José Gomes Filho, o famoso Jackson do Pandeiro (cantor, compositor e multi-instrumentista brasileiro): “A gente trabalha tanto e não consegue o que quer. Quem anda puxando o saco está comendo de colher.”

Sérgio Lopes, Jornalista, professor, especialista em TV, Cinema e Mídias Digitais e em Letras (Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Inglesa)


domingo, 23 de outubro de 2022

Cai Água, Cai Barraco


A Banda Biquini Cavadão foi formada no ano de 1985, no Rio de Janeiro. Tiveram papel relevante no cenário musical dos anos 80 (século passado).  Produziram canções marcantes na música brasileira como: Timidez, Vento Ventania, Zé Ninguém, Tédio, Impossível, Múmias dentre outras. Há 37 anos na estrada, percorreu todo o país... Em abril de 2022, Biquini oficializa exclusão do 'Cavadão' do nome da banda.  Agora, é Banda Biquini...  O quarteto carioca também produziu canções que não são tão conhecidas do grande público, o destaque abaixo é a letra “Cai água, Cai Barraco”, lançada no ano de 1991.  No verão carioca, as chuvas são intensas e os menos favorecidos economicamente sofrem com a questão do saneamento básico. O esgoto fica a céu aberto, o lixo não tem destino adequado, a água não é de qualidade. Infelizmente é “um desastre ecológico de grandes proporções”.  Ademais, as moradias são precárias. Muitos moradores não têm oportunidade de trabalho, a educação é ruim, o tráfico de drogas é dominante e a polícia está sempre atuando nos barracos. A população está cansada de sofrer...  Enfim, uma triste realidade de 1991, ainda é atual em muitas habitações sofríveis de grandes regiões metropolitanas do Brasil.  

Sérgio Lopes, Jornalista, professor, especialista em TV, Cinema e Mídias Digitais e em Letras (Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Inglesa)

                                                Cai Água, Cai Barraco (Biquini)


Cai Água, Cai Barraco (Biquini)

Cai água, cai barraco

Desenterra todo mundo

Cai água, cai montanha, enterra quem morreu

É sempre assim todo verão

O tempo fecha, inunda tudo

É sempre assim todo verão

Um dia acaba o mundo todo

Derruba o muro, o prédio podre, a casa velha

Empurra a velha

Pega a bolsa, sai batido

(E sobe o morro, sobe o pau, sobe o diabo)

Desce o pau em toda gente, a gente temo' que corrê

(Corre pra cima e pra baixo, se enfia num buraco)

Manda fogo na polícia, pr'esses caras aprendê

(E sobe o morro, sobe o pau, sobe o diabo)

E desce o pau em toda gente, a gente temo' que corrê)

(Corre pra cima e pra baixo, se enfia num buraco)

E manda fogo, "pr'esses caras aprendê

Tem mais um filho na barriga

Outra criança pra mamar

Vai ser criado pela rua, vai ter muito que ralar

O povo anda armado

O povo anda armando

O povo todo anda armado e está cansado de sofrer

(E sobe o morro, sobe o pau, sobe o diabo)

Desce o pau em toda gente, a gente temo' que corrê

(Corre pra cima e pra baixo, se enfia num buraco)

Manda fogo na polícia, pr'esses caras aprendê

(E sobe o morro, sobe o pau, sobe o diabo)

E Desce o pau em toda gente, a gente temo' que corrê

(Corre pra cima e pra baixo, se enfia num buraco)

E manda fogo, manda fogo Coelho

Bate no filho, bate-boca, bateria

Bate palma e não para debater

Bate no filho, bate-boca, bateria

Bate uma e não para de bater

Bate no filho, bate-boca, bateria

Bate bola e não para debater

Bate no filho, bate-boca, bateria

Bate perna e não para de bater

(E sobe o morro, sobe o pau, sobe o diabo)

Desce o pau em toda gente, a gente temo' que corrê

(Corre pra cima e pra baixo, se enfia num buraco)

E manda fogo na polícia, pr'esses caras aprendê

(E sobe o morro, sobe o pau, sobe o diabo)

Desce o pau em toda gente, a gente temo' que corrê

(Corre pra cima e pra baixo, se enfia num buraco)

E manda fogo na polícia, pr'esses caras aprendê

Compositores: Andre Fernandes Leite Da Luz, Carlos Augusto Pereira Coelho, Alvaro Prieto Lopes, Miguel Flores Da Cunha, Bruno Castro Gouveia

 


sexta-feira, 21 de outubro de 2022

José

O mineiro Carlos Drummond de Andrade é considerado por muitos, o poeta brasileiro mais prestigiado do século passado. Ele representou a segunda fase do modernismo brasileiro (1930-1945). O poeta de Minas Gerais produziu vários poemas, destaque para: Poema Quadrilha, Poema de sete faces, Poema as sem-razões do amor, Poema verbo ser, Poema da necessidade, Poema no meio do caminho, Poema José, dentre outros. A utilização da linguagem popular e os cenários cotidianos marcaram a obra “José”. Além disso, as manifestações do movimento modernista como verso livre e ausência de um padrão métrico nos versos do poema “José” foram recorrentes.

José

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

 

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

 

E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio — e agora?

 

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

 

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!

 

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, para onde? 

Carlos Drummond de Andrade