quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Dona Rede Globo, a senhora é culpada ou inocente II?



 
Imagem pública da internet retirada do site www.ibamendes.com
        Na fase final do regime militar, entre 1983 e 1984, o movimento das “Diretas Já” teve participação popular e ganhou as ruas das principais cidades brasileiras. Os manifestantes exigiam eleições diretas para Presidência da República.  Uma parte da sociedade brasileira – na época e ainda hoje - acusa a tevê Globo de omitir em seus telejornais a importância da campanha favorável a eleições para presidente. A suposta falta de comprometimento no caso das Diretas, gerou polêmicas e discussões na época do acontecimento e ainda é um tema polêmico da atualidade. A hegemonia da emissora carioca sobre as outras redes de tevê ainda é uma realidade nos dias atuais, porém nas décadas de 80 e 90 do século passado, era ainda mais forte.
 
Imagem pública da internet
        Na campanha das “Diretas Já” entre março de 1983 e abril de 1984, o papel da Rede Globo no início do episódio foi procurar projetar o movimento de maneira inferior à magnitude que se constatava, diminuindo ou silenciando a importância da campanha. Enquanto os outros veículos de comunicação mostraram com ênfase a importância da realização do ato político de oposição ao regime vigente. A tevê de Roberto Marinho acompanhou de forma discreta todo o processo de tramitação da emenda Dante de Oliveira no Congresso Nacional, noticiou os debates, encontros e entrevistas. No ano de 1984, ocorreu o crescimento da campanha. Já em janeiro daquele ano, aconteceu um comício de lançamento nacional do movimento das “Diretas Já” em Curitiba e a emissora inicialmente manteve a mesma postura do ano anterior com coberturas sem maiores repercussões, o evento na capital paranaense foi noticiado apenas no telejornal local. 

Imagem pública da internet (Praça da Sé - São Paulo - 25/01/1984)

        Nos comícios seguintes, a Globo adotou os mesmos critérios e cobriu as manifestações somente nos noticiários regionais. A primeira exibição em rede nacional da campanha foi no Jornal Nacional, em 25 de janeiro de 1984, em São Paulo, na Praça da Sé, aniversário da cidade. A reportagem é considerada por muitos como a grande polêmica da cobertura da Rede Globo no movimento das "Diretas Já". Segundo a emissora carioca, o motivo da repercussão foi a escalada do Jornal Nacional da data do dia 25 de janeiro de 1984, sem referências ao comício, mas sim ao aniversário da capital paulista. O fato foi sentido na chamada de entrada do telejornal, então apresentado por Marcos Hummel. Porém o que foi reiterado no decorrer da matéria, produzida pelo jornalista Ernesto Paglia, era o objetivo político da manifestação. A sociedade civil organizada exigia maior destaque das manifestações pró-diretas, e chegou até a depredar automóveis da emissora. Os militares pressionavam para que não fosse feita a cobertura do evento, ameaçando retirar a concessão da emissora, de acordo com informações da própria TV Globo. Mas conforme crescia a campanha das “Diretas Já”, era inevitável a cobertura jornalística da movimentação. No fim da campanha em abril de 1984, especificamente nos comícios do Rio de Janeiro, na Candelária, e de São Paulo, no Vale do Anhangabaú, a Rede Globo de Televisão adotou outra postura, e passou a fazer a cobertura jornalística intensa das diretas para todo país. A verdade, no entanto, é que a trajetória da tevê carioca foi de omissão com relação à cobertura da emenda Dante de Oliveira, na maior parte do tempo.


 
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        Enfim, podemos nos perguntar se era isso exatamente o que o brasileiro esperava de uma emissora líder de audiência no país? Nos dias atuais, já passados mais de 30 anos do processo de redemocratização, e questiona se todo aquele silêncio (ou prudência) com relação a cobertura da Rede Globo no movimento das “Diretas Já” não foi por medo das retaliações dos militares ou apreensão pela possibilidade da perda da concessão. A mudança de atitude terá sido motivada pela possível perda de audiência para outras emissoras de televisão na cobertura daquele evento tão importante para o país? O que estava em jogo: a luta pela audiência, receio da censura ou interesses empresariais? A resposta? Deixamos para os leitores do Blog dos Letrados Desalienados fazerem uma reflexão.    
Sérgio Lopes