Sim,
eu posso ter apenas um relacionamento. Certamente, preciso de trabalho para
manter minhas despesas. Com certeza,
cuido da higiene pessoal. Realmente, os políticos são corruptos. De fato, o
dinheiro compra tudo. Indubitavelmente, o pobre é excluído. Claro, os meios de
comunicação alienam o povo brasileiro.
Não, posso ter vários relacionamentos. Nunca, necessito de atividades
remuneradas para pagar contas. Jamais, zelo pela higiene apropriada do meu
corpo. De modo algum, os detentores de cargos públicos têm conduta desonesta. De
jeito nenhum, recursos financeiros fixam o destino das circunstâncias. Em
hipótese alguma, os vulneráveis são privados de voz. Nem toda mídia influencia
o modo como os brasileiros pensam e interpretam a realidade. A dicotomia entre
o sim e o não traz à tona mais do que uma simples afirmação, ela revela como o
ser humano define suas decisões ao conviver com tensões internas e externas. Dizer
“sim” pode expressar concordância forçada, receio de frustrar alguém
ou
anseio por reconhecimento; já o “não" requer bravura, noção das próprias
restrições e afirmação de independência. Essa luta constante entre aprovação
externa e autopreservação revela que nossas opções dificilmente são isentas. Fundamentalmente,
a escolha não é só linguística – ela atravessa o campo ético, emocional e
social. Em última análise, perceber esse conflito é indispensável para adotar posicionamentos
mais maduros e verdadeiros.
Sérgio Lopes
Jornalista
Texto publicado
no Blog dos Letrados Desalienados
(blogdosletradosdesalienados.blogspot.com), em comemoração aos 10 anos de
resistência crítica e literária do espaço criado pelo jornalista Sérgio Murilo
Rodrigues Lopes, dedicado à palavra como forma de consciência, sensibilidade e
liberdade.
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