Há duas maneiras de “obter” emprego na atualidade: a primeira é se enfiar nos contatos, a patética varinha mágica dos inúteis que trocam dignidade por favores e talento por bajulação. A segunda é o tal do mérito próprio, essa aberração quase folclórica que só dá as caras para os poucos lunáticos que realmente trabalham enquanto o resto da humanidade monta coleção de desculpas dignas de museu. Se você depende de amigos, aceite seu destino: será apenas uma decoração humana programada para agradar, um manequim caro com cérebro de plástico desfilado por mãos alheias, sem voz, sem mérito e sem a mínima vergonha na cara. Se aposta no talento, prepare-se: os aplausos aparecerão arrastados, sem alma e quase pedindo desculpa por existir... E os olhares de desdém vão te lembrar, a cada segundo, que ter a petulância de fazer bem feito é quase uma afronta num mundo devoto ferrenho da própria insignificância. A humanidade cospe no esforço e lambe conveniências. Enquanto uns navegam à deriva no espumado conforto das panelinhas, outros afundam miseravelmente tentando ter competência. O mérito é um fantasma que ninguém vê e poucos suportam. Já o contato é um pavão histérico, cercado por sanguessugas sorrateiras, competindo ferozmente para arrancar, no dente, aquilo que jamais teriam capacidade de conquistar. Um abre portas à força, o outro fecha olhos com desprezo. Você escolhe: arriscar um brilho incômodo ou se dobrar em sorrisos falsos dignos de um servo sem orgulho. No fim, o espetáculo é sádico: o que resolve sangra em silêncio, enquanto o troféu de ouro da incompetência absoluta desfila vitória pisando no seu orgulho esmagado. Bem-vindo ao emprego moderno: um abatedouro de sonhos onde a mediocridade reina soberana e a humilhação é o pedágio para quem aceita ser triturado sem reclamar.
Sérgio Lopes Jornalista
Texto publicado no Blog dos Letrados Desalienados
(blogdosletradosdesalienados.blogspot.com), em comemoração aos 10 anos de
resistência crítica e literária do espaço criado pelo jornalista Sérgio Murilo
Rodrigues Lopes, dedicado à palavra como forma de consciência, sensibilidade e
liberdade.






