quinta-feira, 28 de julho de 2022

Modinha do empregado de banco

O poeta Murilo Mendes foi representante do surrealismo, nasceu em Juiz de Fora -MG, passou por várias nações europeias. Mendes divulgou a cultura brasileira, no velho continente.  Produziu várias obras, destaque para “Modinha do empregado de banco”. O poema emite o sentimento de inquietude e desolação da voz poética...


Modinha do empregado de banco

Eu sou triste como um prático de farmácia,

sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.


Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
Quantas meninas pela vida afora!
E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.
Se eu tivesse estes contos punha a andar
a roda da imaginação nos caminhos do mundo.
E os fregueses do Banco
que não fazem nada com estes contos!
Chocam outros contos para não fazerem nada com eles.


Também se o diretor tivesse a minha imaginação
o Banco já não existiria mais
e eu estaria noutro lugar.

Murilo Mendes 

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