domingo, 23 de outubro de 2016

Eles foram bandidos temidos e agora são mitos admirados?



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Imagem: http://fernando-averdade.blogspot.com.br
          No Brasil do século XX, três criminosos provocaram medo e destruição pelo país em épocas distintas. No período de transição do século XIX para o século XX, o nordeste brasileiro era marcado por desigualdade, seca e fome... Diante deste cenário, o Cangaço surge como uma alternativa caracterizada com ações violentas de grupos ou indivíduos isolados que assaltavam fazendas, sequestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, passou a liderar um bando de cangaceiros em 1922. Seu bando atuava nos estados da região nordeste: sequestrava crianças, botava fogo nas fazendas, exterminava rebanhos de gado, estuprava coletivamente, torturava, marcava o rosto de mulheres com ferro quente. Alguns consideravam-no um Robin Hood do sertão, outros um bandido cruel, sanguinolento e assassino.  Herói ou vilão? Adorado ou odiado? Lampião tornou-se o grande ícone do cangaço nordestino.
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Imagem: tokdehistoria.com.br(Lampião, o Rei do Cangaço)
           Na década de 1980, no Rio de Janeiro, o morro do Juramento, em Vicente de Carvalho (zona norte), ficou conhecido por ser o reduto de um dos mais famosos traficantes da história do país, José Carlos dos Reis Encina (o "Escadinha"), um dos fundadores da facção criminal Comando Vermelho. Homicídios, assaltos, formação de quadrilhas e tráfico de drogas foram cometidos por Escadinha. Em contrapartida, o bandido e traficante do morro do Juramento não aceitava assaltos na comunidade, não permitia que as crianças do morro alistassem no tráfico comandado por ele próprio, punia com rigor homens que abusassem sexualmente das mulheres moradoras da favela, ajudava a população com a distribuição de alimentos e fazia “justiça” no morro. Diante desta possível realidade, Escadinha foi um dos primeiros de uma geração de bandidos que se tornaram ídolos no morro.
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Imagem: Trip - Uol (José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha)
           Diferentemente de Lampião e Escadinha, O Brasil acompanhou a saga do jovem Leonardo Pareja. Este fora da lei foi considerado um dos bandidos mais emblemáticos do Brasil na década de 1990. Ele pertencia a uma classe social de condições financeiras mais favoráveis. O criminoso era inteligente, ousado, bem-humorado, carismático, articulado, vaidoso e calmo. Além disso, não era violento com suas vítimas. Porém sua inteligência e capacidade de utilizar os meios de comunicação para tornar-se uma “celebridade” o posicionam decididamente a um nível acima dos demais bandidos brasileiros. Em 1995, na cidade de Feira de Santana na Bahia, após um assalto, Pareja manteve como refém a sobrinha de Antônio Carlos Magalhães (governador da Bahia na época). Ele conseguiu fugir e deu entrevistas para rádios ridicularizando a polícia e as autoridades baianas. Além disso, anunciou as cidades em que seus futuros crimes teriam cenário. Já em 1996, Pareja liderou uma rebelião de seis dias no Centro Penitenciário de Goiás (CEPAIGO), na cidade de Aparecida de Goiânia, onde ele e mais 43 detentos fugiram, após fazer várias autoridades como refém, inclusive o presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, Desembargador Homero Sabino.
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Imagem: O Jornal de todos Brasis
          As figuras (Lampião, Escadinha, Pareja) já morreram. Contudo, existe um apelo psicológico de poder, genialidade e invencibilidade nesses personagens? Esses vilões tornaram-se muito populares.... Por que despertam nas pessoas uma reação de identificação? Talvez isso aconteça porque estes bandidos temidos são considerados personagem que se tornaram criminosos por causa dos acontecimentos de suas vidas. O rei do cangaço, o traficante do morro do Juramento e o jovem playboy rebelde sofreram violência dentro de casa, rejeição na escola, descaso do governo, injustiças sociais.... Talvez, essas características também chamem bastante a atenção de uma parte considerável da população que já tem uma vocação para a maldade e para o crime, entretanto é difícil descrever a verdadeira razão de tanto fascínio por estes personagens. Nos dias atuais nas favelas do (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte) como em quase todo o território nacional, os líderes do tráfico são endeusados pela comunidade por tratarem o povo melhor que os políticos do país que detêm os cargos públicos. Enfim, leitores do Blog dos Letrados Desalienados, vocês acreditam que na República Federativa do Brasil ainda têm muitos criminosos famosos que não vão para cadeia por serem protegidos por policiais, por grande parte da imprensa nacional, por parte da sociedade e pelos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário)?
Sérgio Lopes

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